Preparando o acompanhamento das eleicoes de 2018 - Paulo Roberto de Almeida


Preparando o acompanhamento das eleições de 2018

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: Seguimento das eleições presidenciais de 2018; Finalidade: informar, refletir, esclarecer, participar, contribuir]


1. Introdução: de um Brasil sem eleições à redemocratização
Acompanhei, de forma amadora ou, então, já totalmente consciente e reflexivo, mas nunca de forma profissional, TODAS as eleições presidenciais brasileiras desde 1960, quando, aos dez anos de idade e totalmente ignorante de doutrinas políticas e escolas econômicas, acompanhei meu pai a uma urna eleitoral para que ele votasse. Só me lembro do símbolo da vassourinha, que indicava o candidato que iria varrer a corrupção do Brasil e que prometia um brilhante futuro para todos. Deu no que deu: a próxima coisa que eu me lembro é de minha mãe indo me buscar na escola – quando eu normalmente voltava a pé, em três ou quatro quarteirões – pois ela temia uma guerra civil, quando o dito personagem renunciou poucos meses depois.
Lembro-me também vagamente do caos dos anos Jango, com greves e manifestações, quando eu lentamente me politizava nos anos de ginásio – o Vocacional Oswaldo Aranha, do bairro do Brooklin, em SP – e que prenunciava grandes “excitações” pela frente. Não foi o que faltou: muito debate público, preocupações familiares com a inflação, e já uma consciência elementar de divisões políticas no país, aparentemente inconciliáveis, pois já se sentia certo clima de raiva, rancor, talvez ódio, entre os defensores de posições opostas para a política e a economia. A próxima etapa foi, obviamente, o golpe militar de 31 de março, ou 1o. de abril, que acelerou minha politização. Ao início, no entanto, havia uma nítida predisposição para o apoio ao novo governo, o dos militares, certa sensação de “alívio”, depois de quase três anos de muito “ruído” político, agitações contínuas, as fundadas incertezas quanto ao futuro do Brasil.
Mais adiante eu me politizaria na esquerda, pois essa era a mensagem facilmente disponível nas aulas, leituras, conversas e, novamente, nas agitações de rua e em escolas e nas discussões de grupos, ou entre grupos opostos, ou seja, de novo a divisão do país entre opiniões opostas quanto às melhores receitas para fazer crescer a economia e promover o bem-estar da sociedade. Mas já não havia eleições presidenciais nas longas duas décadas do regime militar, um terço das quais eu passei num autoexílio externo, ao ver esgotadas as possibilidades de uma atuação efetiva contra a ditadura: escolhi partir a correr o risco de alguma desventura pessoal em face da aparente solidez da máquina repressiva do regime. Foram anos de estudo, de militância anti-regime, de muitas reflexões – ao conhecer vários socialismos e capitalismos realmente existentes – e de acompanhamento, à distância, do processo político que se desenvolvia no Brasil, tanto a oposição democrática ao regime militar, quanto a reorganização (sempre caótica, ainda dividida) da esquerda que se tinha lançado na luta armada, e que lambia suas feridas no exílio, preparando um incerto retorno ao país.
Ele veio, em circunstâncias diversas: eu, de forma voluntária, em 1977, ao terminar o mestrado e deixando inconcluso um doutorado; ela no bojo da anistia, em 1979, com aquela euforia de apressar o fim da ditadura e começar de novo, na luta pelo socialismo. De minha parte, se tratava de um socialismo light, socialdemocrata, ao estilo alemão ou francês, feito de reformismo de mercado, aceitando as premissas básicas do sistema capitalista, apenas que lutando por mais igualdade e oportunidades para as camadas mais pobres da população, de onde eu mesmo provinha. Da parte da esquerda, pelo menos de certa esquerda, eu sentia um desejo de vingança, de novamente tentar destruir o “Estado burguês”, ou então, de retornar às mesmas velhas fórmulas nacionalistas e estatizantes que já tinham provado sua ineficácia em outras épocas, ou até mesmo durante o regime militar. Foi um fracasso minha tentativa de ajudar a criar um partido socialista moderno, socialdemocrata: os velhos trabalhistas pretendiam retomar os restos do trabalhismo da era varguista, que eu encontrava francamente anacrônico; os reciclados da esquerda guerrilheira ainda queriam construir um partido socialista ao estilo cubano, ou seja, resolutamente stalinista.
Mesmo no âmbito do regime militar, e da ausência completa de eleições livres para presidente, não deixei de “participar” do processo, ao ter oferecido, junto com um colega de “exílio”, uma contribuição a um “programa” de política externa para o candidato de oposição nas eleições indiretas de 1978, como registrado na ficha abaixo. Curiosamente, anos mais tarde, encontrei referência a esse documento, como tendo sido elaborado por um “grupo subversivo de esquerda”, nos arquivos do sistema nacional de informações da era militar:
056. “Estratégias da política externa brasileira entre 1960/1978”, Brasília, agosto 1978, 6 pp. Análise das diversas etapas da diplomacia brasileira, preparada como texto de apoio à campanha presidencial do PMDB, inserido no documento “Justificativas para uma possível reformulação da política externa brasileira na África”. Entregue, em setembro de 1978, ao staff do candidato do Partido, General Euler Bentes Monteiro. Inédito. Documento constando dos fundos do Arquivo Nacional, sob o título: “Justificativa para uma possível reformulação da política externa no Brasil na África”, como tendo sido elaborado por “grupo subversivo de esquerda”; Fundo: SNIG; AC_ACE_11577_78.PDF; A1157711-1978; DATA: 17/9/1978; 30 páginas.

Mas não vivi no Brasil o suficiente para acompanhar os primeiros passos da luta pela redemocratização. Logo depois de ter ingressado no serviço diplomático, em 1977, sai do país, já casado com Carmen Lícia – uma economista que abandonou sua carreira e virou historiadora para me acompanhar no nomadismo da profissão –, para o primeiro posto no exterior, onde nasceu nosso primeiro filho e durante o qual pude retomar o meu doutoramento em Ciências Sociais para finalmente concluir uma tese sobre as relações entre a economia de mercado – vale dizer, o capitalismo – e o sistema político, ou seja, democracia ou ditadura, por meio do conceito de “revolução burguesa”, que então desfrutava de inegável sucesso entre a esquerda acadêmica, em vista do magnum opus de Florestan Fernandes. Voltei ao Brasil a tempo de acompanhar a eleição indireta de Tancredo Neves, em 1985, e a frustração de sua doença e morte, em lugar da posse, e o início do governo de um oligarca aliado da ditadura, convertido em novo democrata (improvisado, por certo), para conduzir o país nos caminhos da democratização. Meu doutoramento me habilitou a começar a dar aulas no mestrado em Sociologia da UnB e no Instituto Rio Branco, em ambos ministrando a mesma disciplina: Sociologia Política.

2. A sociologia política da representação dos interesses na Constituinte de 1987-88
Foi o que me serviu para não só ministrar aulas, de corte nitidamente weberiano, ao lado do marxismo light então mantido, mas também para empreender os primeiros estudos no terreno da observação política, juntando os meus elementos principais de interesse acadêmico e de trabalho profissional: os partidos políticos, o Congresso, as formas de organização política, de um lado, as relações internacionais e a política externa, de outro. Fiz os primeiros artigos, vários publicados, cursos e palestras, sobre essa relação, um terreno ainda relativamente pouco (ou nada) explorado no Brasil, e me dediquei ainda a acompanhar os primeiros passos do processo constituinte iniciado no Brasil pouco depois, como revelado nos registros de alguns dos meus trabalhos:
100. “Partidos Políticos e Política Externa”, Brasília, 25 novembro 1985, 51 pp. Artigo sobre a interação dos partidos políticos com a política externa, do ponto de vista programático e da experiência congressual; conferência pronunciada na Universidade de Brasília em 30 novembro 1985. Revista de Informação Legislativa (Brasília, Ano 23, nº 91, julho-setembro 1986, pp. 173-216) e revista Política e Estratégia (São Paulo, vol. IV, nº 3, julho-setembro 1986, pp. 415-450).
114. “Partidos Políticos e Política Externa”, Brasília, 20 fevereiro 1986, 4 pp. Versão resumida da pesquisa sobre o tema. Jornal da Tarde (São Paulo, 28 junho 1986).
115. “Partidos Políticos e Política Externa”, Brasília, 27 fevereiro 1986, 3 pp. Nova versão do mesmo artigo. Gazeta Mercantil (São Paulo, 26 março 1986, p. 4).
119. “[Parlamento e Política Externa], Brasília, 1º e 5 maio 1986, 12 pp. Discurso preparado com base no artigo sobre partidos políticos e política externa, para o Senador Fernando Henrique Cardoso. Pronunciado, em versão modificada, em sessão do Senado Federal em junho 1986. Publicado no Diário do Congresso Nacional.
123. “Uma Interpretação Econômica da Constituição Brasileira: A Experiência de 1946 e Perspectivas para 1987”, Brasília, 15-20 junho 1986, 25 pp. Artigo sobre a representação dos interesses sociais no processo constitucional brasileiro. São Paulo em Perspectiva (São Paulo: vol. 2, nº 2-3, maio-dezembro 1986, pp. 53-64); Humanidades (Brasília: Ano III, nº 11, novembro 1986/janeiro 1987, pp. 18-26). Ciência e Cultura (São Paulo: vol. 39, nº 1, janeiro 1987, 34-46).
128. “O Legislativo e a Política Externa/Perspectivas: uma visão crítica”, Brasília, 4 setembro 1986. Conferência pronunciada na UnB, no quadro do Curso de Especialização para Assessores Parlamentares (Convênio IPEA/CENDEC/UnB).
138. “Relações Exteriores e Constituição”, Brasília, 8 dezembro 1986, 11 pp. Artigo sobre a recuperação legislativa da fiscalização e controle da política externa do Executivo, nos EUA e no Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional (Rio de Janeiro, ano XXIX, nº 115-116, 1986/2, pp. 83-90); Revista de Informação Legislativa (Brasília, ano 24, nº 94, abril-junho 1987, pp. 109-120); revista Política e Estratégia (São Paulo, vol. V, nº 2, abril-junho 1987, pp. 256-263).
145. “As Relações Internacionais do Brasil Numa Fase de Reordenamento Constitucional: avaliação de textos constitucionais e implicações políticas para o Itamaraty”, Brasília, 10-11 janeiro 1987, 20 pp. Trabalho sobre a problemática das relações internacionais segundo a Emenda Constitucional nº 1, de 1969, o Anteprojeto Afonso Arinos e as implicações deste último para a política externa governamental, com sugestões de dispositivos alternativos. Destinado a circulação interna no Itamaraty.

Entretanto, não consegui ficar no Brasil o tempo suficiente para acompanhar todo o trabalho de elaboração constitucional, tendo sido removido logo depois, no início de 1987, para um novo posto no exterior. Mas não deixei de acompanhar, ainda que à distância, as discussões e a feitura da nova Carta constitucional, assim como sobre o tratamento das relações internacionais do Brasil na nova estrutura constitucional, como ainda registrado nestes trabalhos da segunda estada no exterior a serviço da diplomacia:
166. “As Relações Internacionais na Ordem Constitucional”, Genebra, 20 novembro 1988, 36 pp. Ensaio sobre as novas disposições constitucionais no âmbito das relações internacionais e suas implicações para a política externa brasileira. Revista de Informação Legislativa (Brasília, Ano 26, nº 101, janeiro-março 1989, pp. 47-70).
167. “As Relações Internacionais na Nova Constituição”, Genebra, 24 novembro 1988, 11 pp. Versão resumida do trabalho nº 166. Publicado, em versão sintética, na Gazeta Mercantil (São Paulo, 06/12/1988, p. 4).
193. “A Estrutura Constitucional das Relações Internacionais e o Sistema Político Brasileiro”, Montevidéu, 7 agosto 1990, 29 pp. Ensaio sobre as relações internacionais na Constituição, com ênfase nas relações Executivo-Legislativo. Contexto Internacional (Rio de Janeiro, Ano 6, nº 12, julho-dezembro 1990, p. 53-69; link:  https://www.academia.edu/attachments/32718354/download_file).

Tampouco pude fazer o acompanhamento detalhado, sobre os temas de relações internacionais e de política externa, nos debates eleitorais durante a campanha de 1989, cujo segundo turno foi intensamente disputado entre dois outsiders do sistema político tradicional, o “caçador de marajás” Fernando Collor de Mello, e o “defensor da classe operária” Lula, concluindo-se, como é sabido, pela vitória do primeiro. Mas desde essa época eu me interessava sobre como a interface externa do Brasil era considerada nas plataformas eleitorais, nos programas dos candidatos e, depois, nas propostas de políticas de governo, como evidenciado pelo trabalho abaixo:
178. “A Estrutura das Relações Exteriores no Novo Governo”, Genebra, 03 janeiro 1990, 4 pp. Artigo sobre o processo decisório em política externa com base no novo organograma do Poder Executivo, proposto pelo Governo Collor. Publicado com cortes, sob o título “Desafio Externo”, na página de “Opinião” do Jornal do Brasil (Rio de Janeiro, 16 janeiro 1990).

3. As relações internacionais na ordem constitucional e os partidos políticos
Mudando logo em seguida de posto, e estando mais próximo do Brasil, pude passar a acompanhar com maior acesso à informação o processo político no país – já bastante divido, em função do ativismo propagandístico do Partido dos Trabalhadores e de suas iniciativas em várias frentes –, o que logo foi propiciado por dois eventos que tiveram lugar em 1990: a constituição do Foro de São Paulo, uma congregação de partidos de esquerda da América Latina, orquestrada pelo PT a serviço do Partido Comunista Cubano, logo após a queda do muro de Berlim e a falência geral dos sistemas socialistas no Leste Europeu (mas sobre o qual eu não escrevi nada, naquele momento, por carecer de documentação), e a constituição de uma espécie de “shadow cabinet” pelo mesmo partido, ou seja, a designação de responsáveis pelo seguimento das políticas oficiais de governo, nas diversas áreas de responsabilidade ministerial, por personalidades do partido, como evidenciado pelo artigo que escrevi logo em seguida:
187. “Uma Política Externa Paralela?”, Montevidéu, 17 julho 1990, 4 pp. Comentários sobre a proposta de “governo paralelo” do PT em relação à política externa. Inédito.

Depois de breve estada no Uruguai, retornei ao Brasil, passando a trabalhar na área de integração, tema de inúmeros textos, inéditos e publicados, produzidos no ano e meio em que estive no Brasil, antes de partir novamente ao exterior, no segundo semestre de 1993, desta vez para Paris. No intervalo de Brasília continuei a trabalhar nos meus temas de interesse, e existem inúmeros registros sobre artigos nessa interface entre os partidos políticos, ou o parlamento, e a política externa, inclusive uma proposta que fiz ao então presidente da Fundação Alexandres de Gusmão, embaixador Gelson Fonseca, para que o IPRI assumisse a edição em Brasília, a partir de 1993, da Revista Brasileira de Política Internacional, publicada no Rio de Janeiro desde 1958, tornada órfã com a morte de seu principal editor, promotor, financiador, Cleantho de Paiva Leite, falecido em outubro de 1992. A proposta não vingou, mas nas mesmas “sugestões de trabalho” (datadas de 15//10/1992), eu propunha a realização de um seminário sobre o Parlamento brasileiro em face do Mercosul, então nascente, no quadro de amplo programa de estudos sobre as relações internacionais do Brasil. Tampouco concretizou-se essa segunda proposta, mas eu continuei exercitando meus interesses de pesquisa e de produção de artigos sobre os meus temas já privilegiados nessa interface, inclusive já considerando que a Constituição necessitaria ser revista, de maneira a poder facilitar o processo de integração regional, como revelado nos trabalhos seguintes:
324. “Partidos Políticos e Política Externa no Brasil: uma tênue relação”, Brasília: 6 março 1993, 12 pp. Versão resumida de trabalho em preparação, publicada, sob o título “Partidos não se envolvem com a política externa” no “Caderno Internacional” do Correio Braziliense (Brasília: 5 de abril de 1993, p. 3).
327. “A Política da Política Externa: os partidos políticos nas relações internacionais do Brasil, 1930-1990”, Brasília: 14 março 1993, 85 pp. Ensaio sobre a relação política externa-partidos políticos, preparado para o IV Seminário Nacional do Projeto “60 Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990)”, desenvolvido pelo IPRI/USP e apresentado em Brasília em 01/04/1993.
332. “Os Partidos Políticos nas Relações Internacionais do Brasil, 1930-1990”, Brasília: 29 março 1993, 57 pp. Versão resumida do trabalho nº 327; Contexto Internacional (Rio de Janeiro: vol. 14, nº 2, julho/dezembro de 1992, pp. 161-208).
341. “A Revisão Constitucional e a Integração Regional”, Brasília: 17 maio 1993, 11 pp. Artigo sobre o processo de revisão constitucional nos temas que afetam a integração regional e a inserção internacional da economia brasileira. Publicado, sob o título “Congresso não pode esquecer a Integração Regional”, no “Caderno Internacional” do Correio Braziliense (Brasília: 7 de junho de 1993, p. 3).
364. “Integração Regional e Revisão Constitucional”, Brasília: 14 julho 1993, 8 pp. Reelaboração de trabalhos anteriores sobre a questão, sob forma sistemática e com identificação precisa dos dispositivos constitucionais representando obstáculo aos objetivos integracionistas. Inédito.
383. “A Política da Política Externa: os partidos políticos nas relações internacionais do Brasil, 1930-1990”, Brasília: 25 de setembro de 1993, 79 pp. Versão revista do ensaio nº 327, sobre a relação política externa-partidos políticos. Publicado, na primeira versão de 14/03/1993, nº 327, in José Augusto Guilhon de Albuquerque (org.), Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990), IV volume: Prioridades, Atores e Políticas. São Paulo: Annablume/Nupri-USP, 2000, pp 381-447.

Nessa mesma época, e atuando na mesma faixa de interesse, cheguei a apresentar um projeto de livro sobre as relações entre política interna e política externa, para a coleção “Relações Internacionais” da Editora da UnB, intitulado “A Política da Política Externa”, mas o projeto (com data de  21 de junho de 1993) não foi levado adiante pelo fato de eu ter sido removido logo em seguida para a embaixada em Paris.

4. Seguindo sistematicamente os programas partidários nas eleições presidenciais
Desde meados dos anos 1990 passei a seguir sistematicamente os programas e estatutos partidários em tudo o que se relacionava com as relações internacionais e a política externa do Brasil, com especial atenção para as plataformas de campanha por ocasião das eleições presidenciais, quando os candidatos, supostamente, deveriam dedicar pelo menos algumas linhas, ou alguns minutos, a esses temas, o que nem sempre era o caso, dada a acuidade, a premência, e até mesmo a urgência e importância dos assuntos vinculados à estabilidade econômica, às questões sociais, ao papel do Estado na economia e na definição das políticas públicas de caráter doméstico. Mas, não faltavam as questões relativas ao capital estrangeiro, aos investimentos diretos externos, às negociações comerciais, ao Mercosul e, sobretudo, ao endividamento externo do país. A Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB) também passou a seguir esses debates, e foi nas páginas de seu boletim que tomei conhecimento da primeira tomada de posição de um dos candidatos nas eleições presidenciais de 1994, aproveitando para escrever alguns trabalhos de seguimento dessas propostas formais na área da política externa brasileira, mas que permaneceram inéditos:
430. “A política externa nas eleições presidenciais: a plataforma de um governo PT”, Paris, 18 maio 1994, 4 pp. Texto sobre as posições do PT em matéria de política externa, mencionando texto de Lula publicado no Boletim ADB. Inédito.
452. “A Política Externa nas Eleições Presidenciais: Plataformas Eleitorais em 1989 e em 1994”, Paris, 27 agosto 1994, 18 pp. Texto sobre os temas de relações internacionais nas campanhas presidenciais de 1989 e 1994. Inédito.
454. “A Política Externa na Campanha Presidencial de 1994”, Paris, 6 de setembro de 1994, 3 pp. Resumo, para fins jornalísticos, do trabalho n° 452. Inédito.
470. “A agenda internacional do Governo Fernando Henrique Cardoso: temas dominantes, linhas de continuidade”, Paris, 23 dezembro 1994, 10 pp. Artigo sobre os temas de política externa do novo governo. Enviado à revista Política Externa. Não publicado.
473. “A Estrutura das Relações Exteriores no Governo Fernando Henrique Cardoso”, Paris, 16 janeiro 1995, 3 pp. Artigo sobre o processo decisório em política externa no novo Governo. Inédito.

Um único artigo dessa série, mas já eleito o presidente Fernando Henrique Cardoso, acabou sendo publicado, como abaixo:
469. “A agenda internacional do Governo FHC em 1995”, Paris, 20 dezembro 1994, 4 pp. Artigo sobre os temas de política externa do novo governo. Publicado no O Estado de São Paulo  (Sábado, 07/01/1995, p. 2).

Retornando ao Brasil no final do ano de 1995, pude então seguir de modo amplo a campanha presidencial e as eleições de outubro de 1998, já sob o novo signo da reeleição, possibilidade aberta por uma emenda constitucional feita um ano antes sob iniciativa de FHC, o que considerei negativo para a democracia brasileira, conhecendo a qualidade dos homens públicos, as características dos partidos políticos e as fragilidades dos mecanismos de controle num sistema presidencialista quase imperial. Como eu já tivesse produzido diversos trabalhos nessa área, e continuava a trabalhar nos mesmos temas, decidi juntar diversos trabalhos publicados ou inéditos, agregar alguns outros, fazer uma introdução metodológica, e editar um livro de autor nesse campo, que só deve existir nos meus arquivos e na biblioteca do Itamaraty. Aqui alguns exemplos figuram aqui abaixo:
523. “A agenda internacional do Governo Fernando Henrique Cardoso: temas dominantes, linhas de continuidade”, Brasília, 16 abril 1996, 17 p. Reelaboração do trabalho n° 470 (Paris), para o volume Parlamento e Política Externa: ensaios sobre o sistema político e as relações internacionais do Brasil (Brasília: edição do autor, 1996).
524. “As relações Executivo-Legislativo na área da política externa”, Brasília, 16 abril 1996, 3 p. Introdução ao volume Parlamento e Política Externa: ensaios sobre o sistema político e as relações internacionais do Brasil, composto dos trabalhos sobre a interação entre sistema constitucional e relações internacionais do Brasil e o papel dos partidos políticos na política externa brasileira.

Meu trabalho mais importante daquela fase, as relações entre os partidos políticos e a política externa, foi incorporado a meu terceiro livro, para o qual escrevi um prefácio salientando minhas preferências metodológicas:
593. “Na diplomacia, entre a história e as ciências humanas”, Brasília, 11 novembro 1997, 5 pp. Prefácio ao livro Relações internacionais e política externa do Brasil: dos descobrimentos à globalização (Porto Alegre: EdUFRGS, 1998).

O trabalho, totalmente revisto, atualizado e ampliado, no curso do próprio ano em que se realizariam as eleições, que eu segui até o final, mas que cobria apenas a campanha eleitoral, por razões editoriais, foi este aqui:
633. “Política externa e sistema político: as relações internacionais do Brasil nas eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998”, Brasília, 2 setembro 1998, 8 pp. Elaboração de Addendum sobre as relações internacionais na campanha presidencial de 1998 e adaptação dos textos relativos aos dois períodos anteriores para complemento do capítulo sobre as relações internacionais nas campanhas presidenciais. Incorporado ao livro Relações internacionais e política externa do Brasil: dos descobrimentos à globalização (Porto Alegre: EdUFRGS, 1998), como atualização do capítulo VI, subcapítulos 6.3, 6.4. e 7. Transformado em artigo independente e revisto em 6.10.98. Inédito em sua versão completa.

Com base em todos os materiais preparados para acompanhar as eleições de 1998, compus um primeiro trabalho destinado a publicação, que foi sendo aperfeiçoado no decorrer de 1999, como referido aqui:
636. “A política externa na campanha presidencial de 1998”, Brasília, 6 setembro 1998, 10 pp. Reelaboração do trabalho nº 633, para fins de publicação em periódico como artigo independente. Revisto como trabalho nº 656 e encaminhado ao Conselho Editorial da Revista Internacional de Estudos Políticos (UERJ). Reelaboração ampliada, cobrindo as eleições de 1989 e de 1994, como trabalho nº 680. “A política externa nas campanhas eleitorais brasileiras: a experiência dos escrutínios presidenciais de 1989, de 1994 e de 1998” (04.05.99).
656. “A política externa na campanha presidencial de 1998”, Brasília, 26 janeiro 1999, 11 pp. Adaptação do trabalho nº 636, encaminhado ao Conselho Editorial da Revista Internacional de Estudos Políticos (UERJ). Aceito em 22.04.99 pelo Editor, com sugestão de revisão em 3.05.99. Ampliado para cobrir os demais escrutínios eleitorais no trabalho nº 680.
680. “A política externa nas campanhas eleitorais brasileiras: a experiência dos escrutínios presidenciais de 1989, de 1994 e de 1998”, Brasília, 4 maio 1999, 42 pp. Artigo ampliado a partir do trabalho 656; revisto em 5.05 e reduzido para 26 pp. Publicado na Revista Internacional de Estudos Políticos (Rio de Janeiro: UERJ/NUSEG - Núcleo Superior de Estudos Governamentais, vol. 1, n° 2, agosto 1999, pp. 253-286).

Ao mesmo tempo, continuei trabalhando nos temas de interesse institucional da diplomacia, como o da interação entre o sistema constitucional e as relações internacionais do Brasil, revisando textos anteriores para publicação como capítulo de novos livros, como por exemplo este aqui:
658. “A estrutura constitucional das relações internacionais”, Brasília, 5 fevereiro 1999, 32 pp. Reelaboração de trabalhos anteriores, com atualização dos dados relativos às emendas constitucionais da ordem econômica e elaboração de dois quadros analíticos sobre dispositivos constitucionais na esfera econômica, para integrar livro O estudo das relações internacionais no Brasil, editado pela Unimarco Editora (1999).


5. A concentração do foco analítico na grande mudança do PT, com Lula
Removido para a embaixada em Washington em meados de 1999, a maior parte dos trabalhos seguintes teve mais a ver com os brasilianistas americanos e sobre as relações do Brasil com os Estados Unidos, mas voltei aos temas da área política assim que a campanha eleitoral começou a se definir, já em 2001. Critiquei, por exemplo, as posturas do candidato Lula no referente à política agrícola europeia, quando ele foi à França apoiar o candidato socialista Lionel Jospin em sua campanha presidencial. Um artigo que fiz a esse respeito foi publicado no O Estado de S. Paulo (9/10/2001). Pouco depois o tema suscitou entrevista minha às Páginas Amarelas da revista Veja (24/10), e suscitou censura da Secretaria de Estado ao abrigo de circular dita “lei da mordaça”.
O trabalho teve continuidade, e justamente em direção ao PT, que era o partido mais ativo – pelos seus “intelectuais orgânicos”, que eu sempre chamei de “gramscianos de academia” – na propaganda política, por esta análise de um programa econômico geral, mas eivado de equívocos e contradições, que eu não me eximi de apontar e de denunciar num veículo acadêmico tipicamente esquerdista, em 2001; como eles voltassem a eximir as mesmas posições por ocasião da crise terminal do lulopetismo econômico, em 2016, divulguei novamente esse trabalho em meu blog:
819. “O PT e as relações econômicas internacionais  do Brasil: análise do programa econômico ‘Um outro Brasil é possível’”, Washington, 14 de outubro de 2001, 25 p. Comentários gerais e tópicos ao programa do grupo de economistas do PT, representando a tendência majoritária do partido, identificando pontos obscuros e equívocos em matéria de política externa do Brasil e de relações internacionais. Espaço Acadêmico (Maringá: UEM, a. I, n. 6, nov. de 2001). Postado no blog Diplomatizzando em 27/02/2016 (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/02/o-pt-volta-2001-com-sua-politica.html).

As eleições presidenciais de 2002 eu segui inteiramente a partir de Washington,  já selecionando os programas e plataformas eleitorais de todos os candidatos, mas ainda trabalhando em bases “artesanais”, pois a confecção de blogs especiais para a reflexão e o seguimento dessas disputas eleitorais começou apenas nas eleições seguintes, as de 2006. Continuei seguindo, assim, as declarações do candidato Lula, pois já tinha, desde muito tempo antes, detectado o seu potencial para vencer essas eleições, mas também formulei observações a declarações do candidato supostamente continuísta, o ministro da Saúde José Serra, em ambos casos por meio de textos que permaneceram inéditos. Em paralelo, respondi a acusações do assessor do candidato Ciro Gomes, Roberto Mangabeira Unger, que acusava o Brasil de não ter política externa, em texto encaminhado ao próprio, e publicado muito anos depois em meu blog:
851. “As tribulações de um petista na China: Comentários a artigo de Lula sobre visita oficial de delegação do PT à China”, Washington, 16 jan. 2002, 5 p. Comentários inéditos.
852. “Primeira epístola ao candidato”, Washington, 19 jan. 2002, 3 p. Comentários ao discurso de lançamento da candidatura do ministro da Saúde José Serra à presidência da República, inéditos.
875. “A diplomacia que temos e a que não queremos”, Washington, 12 de março de 2002, 4 p. Comentários a artigo de Roberto Mangabeira Unger, “Por que o Brasil não tem política exterior?” (Folha de São Paulo, 12.02.02, p. 3); blog Diplomatizzando (20/08/2017; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/um-duelo-diplomatico-distancia-com.html), com introdução.

Continuei seguindo todas as plataformas eleitorais, e já em meados de fevereiro eu fiz uma longa análise e observações ao programa do candidato Ciro Gomes, que tinha se adiantado na apresentação de suas propostas; os meus comentários foram enviados a um seu assessor, mas como seria de se esperar permaneceram rigorosamente inéditas e sem retorno. Pouco adiante, no último dia de março de 2002 eu produzi uma primeira abordagem das plataformas dos principais candidatos, com ênfase nas questões econômicas internacionais, nas negociações comerciais em torno do projeto americano da Alca e em temas gerais de política externa, que por ter permanecido inédito, como vários de meus outros escritos mais “sensíveis”, levou-me a republicar esse texto em meu blog, como abaixo. Da mesma forma, quando Lula divulgou a “Carta ao Povo Brasileiro”, em junho de 2002 – presumivelmente escrita pelo seu novo assessor econômico, Antonio Palocci – redigi extensos comentários que permaneceram, como no caso anterior, rigorosamente inéditos, aproveitando então, para publicá-los igualmente, e “postumamente”, em meu blog Diplomatizzando, assim como fiz com o programa do PT em geral, num texto quase imediatamente subsequente. Um resumo de todos os programas foi feito no trabalho 930, mas, como em outros casos, esse texto nunca teve divulgação pública. Aqui seguem todos esses:
870. “Desenvolvimento com Justiça”, Washington, 19 fevereiro 2002, 18 pp. Observações e comentários ao programa de campanha do candidato Ciro Gomes (2002). Encaminhado ao site do candidato e a assessor de campanha. Blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/programa-do-candidato-ciro-gomes-em.html).
889. “O projeto externo como projeto nacional”, Washington-Miami-Rio de Janeiro, 31 março 2002, 4 pp. Comentários sobre as propostas de política externa dos principais candidatos nas eleições presidenciais de 2002. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/seguindo-as-disputas-presidenciais-uma.html).
914. “Lula e as relações internacionais do Brasil”, Washington, 24 junho 2002, 6 pp. Comentários aos aspectos de relações internacionais da “Carta ao Povo Brasileiro”, apresentada como resultado da conferência nacional sobre o programa do PT, pelo candidato Luis Inácio Lula da Silva. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/carta-ao-povo-brasileiro-lula-2002.html).
917. “O Programa de Campanha do PT em 2002: arredondando o quadrado ou ainda a quadratura do círculo?”, Washington, 29 junho 2002, 6 p. Comentários ao programa preliminar do PT, publicado no jornal O Estado de São Paulo (29.06.02). Blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/programa-do-pt-para-as-eleicoes.html).
930. “A política externa e a campanha presidencial de 2002”, Washington, 30 julho 2002, 9 p. Destaque do trabalho n. 926, atualizado, para circulação nas listas de relações internacionais. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/a-politica-externa-e-campanha.html).

Justamente, aproveitando todas essas análises e reflexões sobre os temas de política externa nas eleições presidenciais, compus um dossiê, integrado por todos os trabalhos pertinentes (bem mais do que os aqui citados), mas que não chegou a ser completado. Ao mesmo tempo, atualizei meu trabalho sobre os partidos políticos na política externa, em linguagem mais acadêmica, para integrar a segunda edição de meu livro publicado originalmente pela UFRGS em 1998. O trabalho preparado na ocasião para a nova edição, e revisto uma segunda vez em 2003, e que acabou saindo apenas em 2004, foi este aqui:
926. “As relações internacionais nas eleições presidenciais de 1994 a 2002”, Washington, 19 jul. 2002, 38 p. Reformulado e ampliado sob o título “A política externa nas campanhas presidenciais, de 1989 a 2002”, 21 agosto 2002, 43 p. Primeira versão como seção destacada do capítulo 6 (“A Política da Política Externa”), segunda versão como capítulo independente do livro: Relações internacionais e política externa do Brasil: história e sociologia da diplomacia brasileira (Porto Alegre: Editora da UFRGS). Revisto em abril de 2003 sob n. 1029.

Eu não fazia, apenas, críticas às propostas dos candidatos nas eleições de 2002, mas em tom de brincadeira-séria, eu apresentava as minhas próprias propostas, dando divulgação, portanto, às minhas prioridades em matéria de políticas públicas. Como elas não receberam a disseminação devida – a despeito de terem sido incluídas em meu livro A Grande Mudança (São Paulo: Códex, 2003) – e como elas ainda podem ter alguma utilidade nesta fase pré-eleitoral, se algum candidato tiver vontade de inovar, eu as divulguei novamente no blog Diplomatizzando:
906. “Dez coisas que eu faria se tivesse poder (licença poética imaginária, mas justificada em uma fase pré-eleitoral)”, Charlottetown (Ilha do Príncipe Edward, Províncias Atlânticas do Canadá), 1º e 2 de jun. de 2002, 9 p. Lista de mudanças a serem implementadas por um governo com orientação social-reformista. Espaço Acadêmico (Maringá: UEM, a. II, n. 13, jun. 2002). Incorporado ao livro A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex Editora, 2003). Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/propostas-pra-para-um-programa-de.html).

Para facilitar (ou complicar) a compreensão do público americano sobre as nossas eleições, preparei, como informação de base para eventuais palestras em meios acadêmicos, um pequeno dossiê em inglês, com toda a informação de base disponível naquele momento, inclusive com a ajuda dos materiais divulgados pelo cientista político David Fleischer, professor na UnB:
932. “The Upcoming Presidential Election in Brazil: Parties, Platforms, and Candidates”, Washington, 3 agosto 2002, 6 p. Dossiê sobre as eleições, em inglês, preparado para palestra dada a alunos da School of Foreign Service, do Department of State, feita na Embaixada em 06/08/2002. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/eleicoes-para-americano-ver.html).

E para facilitar a tarefa do presidente que iria ser eleito em outubro de 2002, eu já tinha preparado (e “mandado”), desde o mês de agosto precedente, uma carta, para auxiliá-lo nas tarefas que ele teria de cumprir. No mesmo sentido, recomendei, já em setembro, ou seja, um mês antes das eleições, muita calma aos companheiros que estariam se preparando para exercer o poder pela primeira vez. Continuei insistindo, em minha tarefa pedagógica de fazê-los educados para uma boa governança, numa série de artigos que cito a seguir, bem mais conceituais do que conjunturais. Obviamente, não fui seguido, mas as sugestões, talvez ainda válidas, estão aqui:
938. “Carta Aberta ao Próximo Presidente: (qualquer que seja ele)”, Washington, 31 agosto 2002, 10 p. Ensaio em forma de recomendações ao vencedor das eleições presidenciais de outubro, com argumentos de natureza econômica, política e social. Espaço Acadêmico (Maringá, a. II, n. 16, set. 2002); incorporado ao livro A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex Editora, 2003). Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/carta-aberta-ao-proximo-presidente.html).
958. “Preparado para o poder?: pense duas vezes antes de agir: As consequências econômicas da vitória; Parte 3 (da série: manual de nova economia política para a fase de transição)”, Washington, 8 outubro 2002, 9 p. Continuidade da série, com ênfase nos amigos-inimigos da nova maioria (e do velho pensamento econômico). Publicado na revista eletrônica Espaço Acadêmico (Maringá, a. II, n. 17, out. 2002). Incorporado ao livro (Trabalhos n. 976) A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex Editora, 2003). Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/preparado-para-o-poder-pense-duas-vezes.html).
970. “Como vencer a transição: recomendações espontâneas sobre como alcançar a vitória na subida ao poder (da série: Consequências econômicas da vitória, parte 4)”, Washington, 16 outubro 2002, 1 p. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/como-vencer-transicao-consequencias.html).
978. “Consequências econômicas da derrota: identificando vencedores e vencidos”, Washington, 2 nov. 2002, 10 p. Último ensaio (5) da série “novo manual de economia política”, identificando ideias vencedoras e perdedoras no seguimento do embate eleitoral e antes de iniciar o próximo governo. Incorporado ao livro (Relação de Trabalhos n. 976) A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Códex Editora, 2003). Blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/consequencias-economicas-da-derrota.html).

Entre o primeiro e o segundo turno das eleições de outubro de 2002, quando já se dava por confirmada a vitória do candidato do PT, um jornalista conhecido da Gazeta Mercantil, então o mais importante jornal de economia do Brasil, contatou-me em Washington para pedir minha opinião sobre uma série de questões relativas à política externa do futuro governo. Concordei em expressar algumas ideias desde que fosse em caráter reservado, ou seja, não identificado. Ele mandou-me as questões, eu respondi, mas ignoro se foram ou não aproveitadas em alguma matéria daquele momento. Como o texto nunca foi divulgado, e como o assunto agora não tem muita importância – em termos práticos, pois continua a ser relevante pois vários dos temas continuam pendentes – cabe agora divulgar este trabalho, no momento em que faço uma revisão de todo o meu seguimento das relações entre partidos políticos e política externa. O tom geral é bastante otimista, talvez até demais. Uma das questões tocava no problema das esquerdas, ao que eu respondi da seguinte forma: “Não teremos um governo de “esquerda partidária” no Brasil, mas um governo identificado com forças progressistas. A ideologia política não deveria influenciar a ação governamental, ainda que algumas declarações de dirigentes políticos (não necessariamente na Chancelaria) possam induzir a essa identificação com “velhas amizades” nas ONGs progressistas.” Como se vê, enganei-me completamente: o que tivemos, justamente, foi uma política externa partidária, e até secretamente sectária (o que precisa obviamente ser provado).
972. “Hipóteses de Política Externa – alternativas para um governo PT”, Washington, 23 outubro 2002, 4 p. Respostas a questões colocadas por jornalista da Gazeta Mercantil sobre o exercício da política externa no Governo Lula. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/hipoteses-de-politica-externa.html).

Antes mesmo de terminar o ano, e de estar garantida a vitória do candidato de oposição, eu já terminava um artigo acadêmico para a revista da qual eu era editor adjunto, a Revista Brasileira de Política Internacional, falando da “provável política do presidente Lula”.
977. “A Política Externa do novo Governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva: retrospecto histórico e avaliação programática”, Washington, 28 outubro 2002, 14 pp. Síntese das posições de política externa do PT e do candidato Lula nas disputas eleitorais de 1989, 1994, 1998 e 2002. Publicado como nota na Revista Brasileira de Política Internacional (ano 45, n. 2, julho-dezembro 2002, pp 229-239; disponível em Scielo, link: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292002000200011&lng=en&nrm=iso&tlng=pt).

Muitos dos trabalhos citados acima, de caráter bem mais conceitual do que propriamente conjuntural, prevendo, bem antes das eleições, a vitória do candidato Lula e o início de um governo de esquerda no Brasil, foram reunidos num livro e publicados na nova editora do jornalista Alberto Quartim de Moraes, que já tinha editado meu livro Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império, quando trabalhava na Senac-SP. O livro saiu em janeiro de 2003, mas eu não o lancei por estar em Washington. O nome original que eu tinha escolhido, alusivo em grande medida à obra clássica de Karl Polanyi, era A Grande Transformação: consequências econômicas da mudança política no Brasil, mas acabou sendo, por sugestão do editor, este aqui: A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Editora Códex, 2003; ISBN: 85-7594-005-8). O livro, desnecessário dizer, teve escassa repercussão, mas até hoje eu me orgulho dele, por representar em grande medida meu pensamento político de corte liberal.
Depois de terminados os textos para o livro, entre outubro e novembro de 2002, eu ainda me dediquei a formular uma nova previsão – que poderia ser considerado como o número 6 da série de artigos conceituais – sobre o que seria o governo petista, fazendo algumas previsões sobre o seu desempenho no poder, já “adivinhando” que apenas aparentemente eles iriam se ocupar das crianças pobres, se dedicando bem mais a “salvar a burguesia e todos os seus bens”, como eu indiquei neste último artigo do ano de 2002, revisto no dia 29 de dezembro. Finalmente, o último da série, de n. 7, foi uma espécie de proposta de “governo de resultados”, com determinação de objetivos a serem cumpridos pela nova maioria, onde eu revisava os argumentos do trabalho n. 970:
985. “Pensando adiante: como a nova maioria salvou a burguesia e todos os seus bens (advertência preventiva)”, Washington, 16-17 nov. 2002; revisão, atualização 29/12/ 2002, 8 p. Novo ensaio da série “consequências econômicas da vitória, parte 6”, com antecipação de possíveis resultados de políticas setoriais aplicadas em favor de alguns setores da economia brasileira. Postado no blog Diplomatizzando (27/05/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/05/minha-revisao-da-era-lulopetista-o-que.html).
989. “Avaliando a transição: Balanço da vitória, no momento da subida ao poder (da série: Consequências econômicas da vitória, parte 7)”, Washington, 28 dezembro 2002, 11 p. Continuidade da série, a partir do texto “vitória na fase de transição” (Trabalho n. 970), com avaliação sintética do desempenho da equipe da nova maioria, e propondo um sistema objetivo de avaliação quantificada. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/consequencias-economicas-da-vitoria.html).


6. A política companheira, para o bem e para o mal
Uma vez empossado o novo governo, fiquei acompanhando o seu desempenho, mas sempre com o foco nas questões de diplomacia e de política internacional do Brasil, nas quais, aliás, se manifestaram as maiores mudanças, contrariamente ao que se previa, e eu mesmo antecipava. Se imaginava que haveria alguma turbulência na economia, mas o desempenho foi bastante superior a qualquer previsão, e as turbulências vieram, paradoxalmente, da esquerda do PT, que pretendia uma economia declaradamente desenvolvimentista, não o neoliberalismo de fato implementado. Um primeiro artigo meu sobre a diplomacia do governo Lula ainda tendia a reafirmar a crença de que pouca coisa mudaria, de fato, dadas as características de permanência de qualquer política externa, em vista de compromissos externos. Foi assim ao início, mas logo começaram as “inovações” naquilo que viria a ser chamado de “diplomacia ativa e altiva”.
1010. “A política internacional do Partido dos Trabalhadores: da fundação do partido à diplomacia do governo Lula”, Washington 19 fev. 2003, 27 p. Análise das posições de política externa do Partido dos Trabalhadores e do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, desde a fundação do partido e as eleições de 1989, até o pleito vitorioso de 2002, com destaque para os temas básicos e a evolução em direção de uma postura mais próxima da forma tradicional de atuação da diplomacia. Publicado na revista Sociologia e Política (Curitiba: UFPR; ISSN: 0104-4478; n. 20 jun. 2003, p. 87-102; link: http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n20/n20a8.pdf).

Em meados do ano, não tendo sido possível minha reincorporação à Secretaria de Estado, como coordenador do mestrado do Instituto Rio Branco – por motivos que não cabem aqui registrar – já estava acertada minha ida para um “Núcleo de Assuntos Estratégicos” da Presidência da República, um excelente posto de observação sobre a economia e as demais políticas públicas do novo governo. Ao retornar ao Brasil em outubro do 2003, meu primeiro contato com a “fauna lulopetista” se deu no encontro anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais, quando, depois de afirmar que o governo Lula praticaria uma política neoliberal (no que eu estava seguro), fui devidamente vaiado pelos acadêmicos gramscianos excitados com a perspectiva de estarem, ou de terem chegado, finalmente, no poder, para maior frustração de todos eles nos meses e anos seguintes. Meu trabalho, refletindo algumas das reflexões já refletidas acima, foi este aqui:
1133. “A longa marcha do PT para a socialdemocracia: Algumas ideias vencedoras, outras indefinidas e questões ainda não-resolvidas”, Washington, 9 outubro 2003, 7 p. Paper para apresentação no XXVII Encontro Anual da ANPOCS (Caxambu, 21/10/2003), na sessão SE01: Por onde tem ido e por onde irá o governo Lula? Blog Diplomatizzando (29/10/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/10/anpocs-2016-sociologos-continuam.html).

Muito do que escrevi como assessor especial do NAE não está disponível, embora tenha a ver com aspectos importantes da política brasileira nesses anos iniciais do lulopetismo; mas também muito do que escrevi em caráter pessoal, sobre outros aspectos da política e da diplomacia do novo governo, não se prestava à divulgação, naquela época e talvez mesmo atualmente, por envolver questões de deontologia ou de ética pública. Não é preciso, no entanto, dizer, que eu  me colocava a contracorrente de muitos dos projetos e iniciativas do governo petista, por critérios de mérito, de consistência, de adequação às necessidades brasileiras de desenvolvimento. Até a metade do primeiro mandato do governo Lula eu considerava que os apparatchiks no poder eram apenas ineptos, ou seja, despreparados para as lides governamentais, por inexperiência, por ignorância ou fatores afins. Um pouco mais adiante eu vim a perceber que se tratava, na verdade, de gestos deliberados, para beneficiar algum setor, alguma entidade, alguém de alguma área interessada em que aquela política, aquela medida, que eu julgava de fato inadequada, e até prejudicial ao país e à sociedade.
Menos de um ano depois da vitória, e alguns meses depois da posse, eu já estava escrevendo textos bastante críticos das medidas do governo, alguns divulgados por outras vias, outros apenas circulados em caráter reservado ou bastante restrito. Em suma, logo cheguei à conclusão de que o grupo no poder, e seus associados, poderiam estar incorrendo em atividades “paralelas” que teriam muita dificuldade de justificação pública. O que me surpreendeu não foi descobrir essas características, mas ver a total inoperância dos partidos de oposição no Congresso, a começar pelo suposto partido símbolo da outra política, o PSDB. Em todo caso, já não tinha textos “eleitorais” nessa fase, mas trabalhos cobrindo a maior parte das políticas públicas e diferentes aspectos da política externa e da diplomacia do Brasil, alguns divulgados, outros não. Ou seja, o partido no poder tinha de fato um projeto de poder, se possível interminável, como deixei perceber num artigo publicado no início de 2004; outro artigo tentava enfatizar como se deveria construir uma boa governança no país; e um pouco mais, em abril, eu já não eximia de apontar a “grave crise de governança no Brasil”:
1196. “Do projeto de poder a um projeto de governo”, Brasília, 27 janeiro 2004, 10 p. Texto com sugestões de elementos para uma possível política de governo. Espaço Acadêmico (a. III, n. 33, fev. 2004). Blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/o-projeto-de-poder-do-governo.html).
1214. “Os doze trabalhos da boa governança”, Brasília, 23 fevereiro 2004, 10 p. Sobre os elementos de convencimento da maioria, para cadernos da boa governança. Espaço Acadêmico (n. 34, março 2004). Blog Diplomatizzando (20/11/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/11/os-doze-trabalhos-da-boa-governanca.html).
1241. “A grave crise da governança no Brasil: duas ou três coisas que eu sei dela e algumas maneiras de superá-la”, Brasília, 9 abril 2004, 9 p. Considerações reservadas sobre o quadro político na conjuntura de 04/2004 e recomendações pertinentes. Espaço Acadêmico (n. 36, mai. 2004). Blog Diplomatizzando (22/10/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/10/a-grave-crise-da-governanca-no-brasil.html).

 Durante essa fase em que eu trabalhei diretamente para o governo – antes de ficar durante anos atravessando o deserto da ausência de cargos, na segunda metade da década – eu evitei entrar na seara que sempre foi a minha, desde o início da carreira profissional, a política externa. Ainda assim, acabei compondo um artigo, relativamente positivo quanto à diplomacia do governo lulopetista, que foi divulgado publicamente na revista da qual sou editor adjunto, e que depois foi extensamente citado e utilizado por diferentes círculos políticos e acadêmicos, inclusive vários totalmente simpáticos à chamada “diplomacia ativa e altiva”, sendo ainda hoje um dos mais acessados:
1260. “Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula”, Brasília, 19 maio 2004, 24 p. Análise crítica das diplomacias do governo FHC e do governo Lula, com cronologia de viagens e visitas. Revista Brasileira de Política Internacional (Brasília: a. 47, n. 1, 2004, link: http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v47n1/v47n1a08.pdf ).

Pouco depois, era finalmente publicada a segunda edição de meu livro editado pela UFRGS, no qual constava a versão atualizada e revista do famoso artigo pioneiro sobre a questão, muitas vezes citado na bibliografia especializada:
“A política externa nas campanhas presidenciais, de 1989 a 2002, e a diplomacia do governo Lula”, in Relações internacionais e Política externa do Brasil. 2ª ed.; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, p. 255-308.

No início de 2005, a pedido do editor do projeto “Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990)”, José Augusto Guilhon de Albuquerque, eu preparei uma nova versão, atualizada e ampliada, do meu trabalho sobre as relações entre partidos políticos e política externa: “A política da política externa: os partidos políticos nas relações internacionais do Brasil, 1930-2004” (Brasília, 31 janeiro 2005, 85 p.), ao que eu saiba nunca publicado. Ao mesmo tempo, aproveitei materiais já elaborados para elaborar outro ensaio para o mesmo projeto: “A política internacional do PT e a diplomacia do governo Lula” (Brasília, 31 janeiro 2005, 23 p.), desta vez publicado: Guilhon de Albuquerque, José Augusto; Seitenfus, Ricardo; Nabuco de Castro, Sergio Henrique (orgs.), Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990) (2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, v. I: Crescimento, Modernização e Política Externa; ISBN: 85-7387-909-2; p. 537-559).
Nesse ano, com a revelação do escândalo do Mensalão, eu acreditava que o PT e Lula iriam perder as eleições do ano seguinte, mas tampouco me entusiasmava o comportamento da oposição, que me parecia totalmente despreparada para a disputa em 2006. Diversos escritos dessa época, essencialmente críticos ao quadro desolador que estávamos assistindo, ou seja, um quadro gigantesco de corrupção, mas também sobre política externa, permaneceram inéditos, ou tiveram destino diversos, não identificados. Nos últimos dias do anos de 2005, eu preparei uma dupla de pequenos artigos reflexivos sobre a situação do Brasil e as opções que se colocam para a sociedade brasileira, não apenas em função do calendário eleitoral de 2006, mas também em função dos grandes problemas atuais da nação e as escolhas que ela deve fazer para superá-los, publicados num antigo blog que eu tinha nessa época (http://paulomre.blogspot.com.br), antes de criar o Diplomatizzando; os temas podiam ser resumidos nos seguintes itens: emprego, conhecimento (educação), segurança e empreendedorismo, ou seja, tudo aquilo que eu esperava que o governo petista fizesse como atividades centrais de suas políticas.  

7. As eleições presidenciais de 2006, desta vez seguidas por um blog especial
Em meados dos anos 2000 eu já tinha tido a experiência de vários blogs, e a repetição, ou a sucessão, dessas plataformas não se devia apenas à suposta diversidade de assuntos que eu pretendia tratar, mas também minha inépcia na manipulação dessas novas ferramentas de comunicação social, que no domínio do Blogspot se parecem com esses free lunchs que de vez em quando o capitalismo oferece aos usuários habituais. Neste caso, no entanto, a decisão foi dirigida e deliberada. Como especificado na descrição do novo blog, “Eleições Presidenciais 2006”, tratava-se de um
blog dedicado às eleições presidenciais brasileiras de 2006, em especial à campanha presidencial e seus principais candidatos. Notícias, análises, comentários, programas partidários e outros materiais relevantes, com destaque para temas vinculados às relações internacionais e à política externa do Brasil. Farei o acompanhamento e o registro dos principais episódios da campanha presidencial de 2006. Que vençam os melhores ou, pelo menos, os mais honestos...

A primeira postagem foi feita em 5 de julho de 2006, quando não havia ainda uma definição precisa de todos os candidatos, com exceção do próprio presidente no cargo, deixado livre de impeachment por omissão, ou conivência, dos partidos de oposição, sendo que meu blog era claramente contrarianista, como eu declarei logo na primeira postagem:
Pretendo postar notícias, comentários, artigos, materiais diversos, todos relacionados de perto ou de longe com as eleições brasileiras. Por exemplo: a lista dos mensaleiros, dos traficantes de votos, dos sanguessugas do dinheiro público e de todos aqueles políticos desonestos cujo nome precisa ser devidamente lembrado para não corrermos o risco de sufragar algum amigo do alheio, algum meliante, como representante do povo (quando na verdade ele representa apenas a si mesmo e seus escusos negócios políticos). Mas, o essencial mesmo será ocupado com a campanha presidencial e seus principais candidatos. Programas partidários, análises das tomadas de posição, declarações dos candidatos, suas finanças e alianças, um pouco de tudo sobre as eleições e seu impacto para a vida do país. (1. Inaugurando um novo Blog: todo ele dedicado às eleições; 7/05/06; 11:36 PM)

Mas antes mesmo da inauguração desse blog especializado eu já compunha, em 24 de abril, um primeiro artigo sobre o tema: “Antecipando o debate das eleições de 2006”, preparado para o boletim da ADB, no qual eu listava todas as matérias publicadas em números anteriores sobre as campanhas precedentes, publicado mais adiante em formato resumido no n. 53 desse boletim, e em versão completa na revista Espaço Acadêmico (n. 62, julho 2006). Nele eu dizia que “A política externa do Brasil permeia os temas da agenda interna como nunca ocorreu no Brasil, e isso deverá refletir-se na campanha presidencial.” Sobre a política externa do lulopetismo, eu afirmava que:
Em nenhuma outra área das políticas de governo a identidade entre o partido e o governo é tão ampla e a interface tão colada ao modelo original quanto na política externa: opções, discursos, ações, tudo reflete, com razoável identidade, o que escreviam e argumentavam os líderes do PT quando se encontravam na oposição. Era natural que, uma vez no poder, se dispusessem a colocar em prática suas ideias.

Assim que foram decididos, no primeiro turno das eleições no início de outubro, os dois candidatos ao segundo, Lula e Alckmin, , publiquei, no dia 4, meus comentários aos programas de ambos (http://eleicoespresidenciais.blogspot.com/2006/12/86-programas-da-campanha-presidencial.html), repetindo a experiência no dia 7, em relação aos seus programas econômicos. Numa outra postagem, também dedicada ao tema da política externa, transcrevi uma entrevista do jornal Folha de S. Paulo (19/10/2006) com o embaixador Rubens Barbosa, coordenador setorial da campanha de Geraldo Alckmin, já entre os dois turnos, portanto, na qual ele criticava não só a diplomacia do lulopetismo como a própria postura do chanceler:
FOLHA - O Sr. critica a “politização” da política externa. Em que pode ter prejudicado o Brasil?
RUBENS BARBOSA - A politização das decisões começa nas premissas, na visão de mundo equivocada do PT, no antagonismo entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Estamos no mundo globalizado, onde é preciso uma reação muito rápida e um ajustamento a essa nova posição. Como consequência dessa visão de mundo, decorreram atitudes na política externa que repercutiram negativamente. Por exemplo, o Brasil quis assumir uma postura de líder da região e isso gerou um certo ressentimento com os vizinhos. O Brasil decidiu reconhecer a China como economia de mercado, trazendo prejuízo, quando poderia ter feito isso até 2012. O Itamaraty sempre teve visão de Estado e essa politização representa o contrário. Estou cansado de ver Celso Amorim em comícios. Fiquei 42 anos lá e nunca tinha visto isso.

No total, foram 88 postagens, até o dia 3 de dezembro, quando eu ainda estava postando informações sobre as propostas econômicas dos candidatos. Existem, entre as matérias propriamente eleitorais, diversas denúncias sobre aumento suspeito de patrimônio, possíveis infrações ao Código de Ética ou a disposições da Lei Eleitoral, todas elas incidindo sobre o presidente no cargo, mas nenhuma delas levada a conclusão pelo TSE ou qualquer outro órgão da administração, o que também revela a leniência ou desinteresse (ou coisa pior) dos órgãos de controle. As restrições do TSE se destinavam a coisas absolutamente ridículas, como a proibição de “showmício”, quando o abuso do poder econômico e a publicidade irregular ficaram impunes ao logo da campanha. Todas as postagens, e meus muitos comentários, continuam disponíveis e podem ser visualizados neste link: http://eleicoespresidenciais.blogspot.com.br/ (sem menção do ano de 2006).

8. As eleições presidenciais de 2010, novamente seguidas por blog dedicado
Meu blog especialmente dedicado à campanha de 2010 começou, na verdade, um ano antes, e isso devido às grossas infrações cometidas pelo presidente no cargo, em favor de sua candidata arrancada do bolso do coleto. Aliás, na primeira postagem, feita em 17 de junho, eu já alertava: “Como parece que a campanha começou mais cedo do que deveria, meu segundo post já é dedicado a um editorial de jornal sobre esse problema.” De fato, o segundo post transcrevia um editorial do jornal A Gazeta (ES) (16/06/2009), intitulada “Caravana da Dilma”, na qual se informava que:
Legalmente, não é tempo de campanha eleitoral. Mas a restrição não parece em vigor em solenidades com o tom de comício. Pelo que se vê, desde o final de maio aumentou a ofensiva para popularizar Dilma Rousseff como pré-candidata. O próprio Lula faz por onde se supor seu empenho nesse sentido. (...) Lula ressaltou que não podia falar em campanha eleitoral. Mas não se conteve. Falou. "Todo mundo sabe que vamos ganhar as eleições de 2010", afirmou. (...) Em fevereiro, o DEM e o PSDB acusaram o presidente da República e a chefe da Casa Civil de fazer propaganda eleitoral antecipada em solenidades. Recorreram ao Tribunal Superior Eleitoral contra suposto uso político de uma reunião com 3,5 mil prefeitos naquele mês, em Brasília. No entanto, o TSE concluiu que faltaram evidências para caracterizá-la. (...)
Há a percepção generalizada de que a campanha à sucessão presidencial foi antecipada. Por si, isso é lamentável à medida que pode contaminar o ambiente político e as esferas administrativas, em todos os níveis.

O candidato da oposição voltou a ser o mesmo candidato derrotado do PSDB, aparentemente sem maiores chances, em vista da imensa mobilização de recursos, publicidade, máquinas custosas de propaganda que a ministra-chefe da Casa Civil pode mobilizar em seu favor, ademais da própria ação provavelmente criminosa (mas não sancionada pela Justiça Eleitoral) que o chefe de governo exerceu muitos meses antes da abertura oficial da campanha. O blog, sem maiores surpresas, se chamava “Eleições Presidenciais 2010”, mas, como indicado em sua página título,
… foi aberto em junho de 2009, [e] se destina a acompanhar o processo eleitoral de 2010, em especial a campanha presidencial, seus candidatos e programas. Ademais da transcrição de informações e matérias de imprensa, vou colocar reflexões pessoais e análises sobre as plataformas dos principais candidatos, em especial no que se refere à política externa. (...) Farei o acompanhamento e o registro dos principais episódios da campanha de 2010, aliás, desde agora, quando a campanha só começou para um lado...

De fato, mais de um ano antes das eleições, Lula já estava fazendo campanha ilegal em favor de sua candidata e de outros aliados – inclusive em apoio ao seu antigo inimigo, Fernando Collor – e nunca se eximiu de pedir votos abertamente; a própria interessada já tinha blog próprio de campanha desde julho de 2009. Vários jornalistas, como registrado em meu blog, enfatizavam a “estratégia da mentira” em plena ação, ademais de todos os demais abusos cometidos em matéria de comícios apoiados em farta distribuição de comida e transporte gratuito para eleitores enganados. Mas, como em 2006, o candidato oposicionista não ajudava sua própria campanha.
Meu blog se manteve de junho de 2009 a novembro de 2010, período no qual preparei, no total, 640 postagens, de tamanhos e assuntos diversos, numa média entre 35 e 40 postagens por mês, cobrindo as várias etapas da campanha e os posicionamentos dos principais candidatos, ademais de agregar comentários cada vez que pertinente. Respondia a perguntas de jovens estudantes e fazia campanha contra o voto nulo ou em branco. Oficialmente, eu não tomava partido, mas era óbvio que os abusos governistas eram de tal monta que era impossível não se indignar com tamanha desfaçatez. Em síntese, tivemos a perpetuação no poder do mesmo grupo que desfrutava de inegável apoio entre as várias camadas de eleitores – desde os mais simples até os mais ricos, industriais e banqueiros – o que para mim significava agravamento dos problemas que eu já vinha detectando na economia e na política desde muito tempo.
À margem do blog, que coincidiu com uma estada de vários meses num serviço provisório na China – tendo eu votado no Consulado em Shanghai – eu comecei a produzir textos sobre o processo eleitoral desde fevereiro de 2010, por uma pequena análise do papel da política externa nas eleições presidenciais. Cheguei inclusive a redigir uma “Declaração preventiva sobre as eleições” (Shanghai, 9 maio 2010), explicitando princípios e posições gerais em relação à minha postura nas próximas eleições, e que foi postada no blog Eleições Presidenciais 2010 (link: http://eleicoespresidenciais2010.blogspot.com/2010/05/uma-declaracao-de-principios-preventiva.html). O que está dito ali, permanece válido para outras eleições também.
Pouco depois eu refletia sobre como as eleições poderiam melhorar o Brasil, se as políticas corretas fossem aplicadas: “Ano de eleições: como o Brasil poderia ser melhor?” (Shanghai, 22 de maio de 2010), postado no ano de novas eleições (2014) no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/04/eleicoes-2014-como-o-brasil-poderia-ser.html). Convidado pouco depois a um debate acadêmico sobre as eleições e seu impacto na política externa, não pude comparecer, mas enviei meus comentários para serem lidos: “A Política Externa e as Eleições Presidenciais no Brasil em 2010” (Shanghai, 12 agosto 2010), tendo sido divulgados dois meses depois em meu blog (http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/politica-externa-do-brasil-e-as.html). Quase simultaneamente eu fazia uma “Declaração de voto”, que foi postada em seu formato original num outro blog que reunia textos de caráter geral (link: http://textospra.blogspot.com/2010/09/declaracao-de-voto-um-manifesto-quase.html). Poucos dias antes do segundo turno, num pequeno texto escrito numa viagem ao Japão (Tóquio, 24/10/2010), eu fazia uma reflexão sobre o “day after” e concluía que o país amanheceria dividido e assim permaneceria nos anos à frente; eu via o Brasil
aproximando-se do modelo de alguns vizinhos, países nos quais o processo político também conduziu à fragmentação social, à divisão política, à fratura institucional e a uma predisposição mental de conceber a arena do jogo político, não como uma sadia competição entre propostas alternativas de políticas públicas, mas como um enfrentamento entre inimigos irreconciliáveis, como uma batalha de vida ou morte em torno de escolhas excludentes. (“Brasil: the day after”, blog Diplomatizzando; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/brasil-eleitoral-uma-pequena-reflexao.html).

Logo em seguida eu me pronunciava contra o voto nulo e também fazia uma nova declaração de voto, ao mesmo tempo em que comentava as posições e propostas dos dois candidatos (nem todos postados no blog Eleições Presidenciais 2010):
2215. “Contra o Voto Nulo: meus critérios de escolha”, Shanghai, 27-28 outubro 2010, 5 p. Comentários sobre a inconsistência política do voto nulo ou em branco. Postado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/minha-posicao-sobre-o-voto-nulo-paulo-r.html).
2218. “Minha declaração de voto: em quem não vou votar”, Shanghai, 29 outubro 2010, 2 p. Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/minha-declaracao-de-voto-em-quem-nao.html).
2219. “O programa do candidato do PSDB para o Brasil: uma crítica central”, Shanghai, 31 outubro 2010, 4 p. Críticas ao programa do candidato José Serra, do PSDB, que identifica como problema central do Brasil a desigualdade. Blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/programa-de-governo-de-serra-um.html).
2220. “As promessas da candidata eleita: breve avaliação”, Shanghai, 1 novembro 2010, 4 p. Comentários aos treze pontos da campanha eleitoral. Blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/11/treze-promessas-da-candidata-agora_01.html).

Um último trabalho reflexivo desse mesmo ciclo versou sobre as perspectivas da diplomacia brasileira no governo que começaria logo em seguida:
2226. “A diplomacia brasileira numa nova conjuntura política”, Brasília, 26 novembro 2010, 4 p. Artigo para sobre a possível diplomacia do governo que toma posse em 1 de janeiro de 2011. Mundorama (29.12.2010; link: https://www.mundorama.net/?article=a-diplomacia-brasileira-numa-nova-conjuntura-politica-por-paulo-roberto-de-almeida).



Por diversas razões – falta de tempo, titularidade de muitos blogs, vários sem atualização efetiva, dispersão de esforços, trabalho intenso no Consulado em Hartford, para onde tinha sido removido em 2012 – não criei um blog especial para as eleições desse ano, inclusive porque elas foram intensamente disputadas nas redes sociais, não apenas blogs diversos dos candidatos e de seus apoiadores respectivos, institucionais ou voluntários, mas sobretudo e principalmente através da ferramenta básica da interação cibernética, que foi o Facebook. Dadas as características próprias dessa ferramenta, a comunicação e interação intensa exercidas através do FB se perdeu na instantaneidade das mensagens postadas, trocadas, confrontadas e submergidas no imenso caudal de palavras e de imagens permitido por esse instrumento central da era cibernética.
Muito do que produzi, como argumentos, como comentários, em defesa desta ou daquela posição, ao longo dos meses em que se desenvolveu a campanha presidencial, foi sendo acumulado, e devidamente soterrado, nas centenas, talvez milhares, de posts e respostas originais ou derivadas usando esse meio virtual, não totalmente efêmero, mas praticamente impossível de encontrar estabilização e registro sobre eventuais reflexões críticas, e até análises mais sofisticadas, que se perderam, assim, na torrente de palavras. Ainda assim, redigi ou transcrevi muitos comentários, notícias, reportagens e análises postados ocasionalmente no meu blog Diplomatizzando. Comecei por uma “Declaração de voto” (9/08/2014; http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/declaracao-de-voto-um-manifesto-pessoal.html), continuei através de uma “economia política das eleições” (10/08/2014; http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/a-economia-politica-das-eleicoes-uma.html), e também elaborei uma reflexão sobre “o que está em jogo nestas eleições: reflexões de circunstância e de alguma constância” (Toronto, 21/09/2014: http://diplomatizzando.blogspot.ca/2014/09/o-que-esta-em-jogo-nestas-eleicoes.html).
Segui a campanha nos meios disponíveis: TV brasileira em canal pago, internet, notícias pelas redes sociais, boletins diversos. A maior parte da massa de informação retransmitida era “pescada” nesses meios, mas de vez em quando deixava as notícias de lado para me pronunciar direta e expressamente sobre as declarações dos candidatos ou seus apoiadores, com uma concentração lógica nas posições da recandidatura governista e seu principal adversário. O personagem principal continuava sendo, obviamente, o ex-presidente Lula, um mentiroso contumaz, aliás como sua candidata. Listo aqui algumas dessas postagens em meu blog que ainda são facilmente acessíveis, ao contrário do FB:
2687. “O Brasil quebrou três vezes sob FHC? Mentira da candidata!”, Hartford, 5 outubro 2014, 5 p. Respostas às alegações mentirosas da candidata oficiosa, sobre os acordos efetuados entre o Brasil e o FMI, entre 1998 e 2002. Diplomatizzando (5/10.2014; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/eleicoes-2014-o-brasil-quebrou-3-vezes.html) e novamente em 13/10/2014, uma vez que a candidata continuou a mentir (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/o-brasil-nao-quebrou-tres-vezes-mentira.html).
2698. “O terceiro grande personagem das eleições brasileiras: o ausente; reflexões sobre a abstenção e os votos brancos e nulos em 2014”, Hartford, 21 outubro 2014, 4 p. Comentários sobre um fenômeno relevante para o segundo turno eleitoral. Blog Diplomatizzando (link:http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/o-terceiro-grande-personagem-das.html).
2699. “Tangos e tragédias nas eleições brasileiras: menas, pessoal, menas”, Hartford, 23 outubro 2014, 5 p. Comentários sobre a divisão dos apoiadores de um ou outro candidato, mostrando que não existem muitas diferenças entre eles. Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/tangos-e-tragedias-nas-eleicoes.html).
2700. “Venezuelização do Brasil?: uma campanha de ódio na eleições”, Hartford, 23 outubro 2014, 3 p. Comentários sobre a fragmentação do Brasil em linhas sociais, regionais, raciais, de gênero e segundo afiliações políticas e orientações econômicas, que pode resultar num país dividido a partir de 27 de outubro. Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/eleicoes-2014-venezuelizacao-do-brasil.html).

Terminei o ano por uma análise de maior profundidade, tratando dos “Presidentes na política externa brasileira: da retração ao ativismo” (Hartford, 22 dezembro 2014, 42 p.), um ensaio histórico sobre a temática do papel dos presidentes na política externa; publicado in: João Paulo Peixoto (org.), Presidencialismo no Brasil: história, organização e funcionamento (Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2015, p. 163-213). Não é preciso, neste momento, estender-me sobre a fraude que foram as eleições de 2014, tanto porque elas provocaram imediata reação da cidadania consciente, em reação aos abusos de campanha e à imensa massa de corrupção que começou a ser desvendada a partir desse ano, redundando, por meio de peripécias diversas, no impeachment de 2016.

10. Perspectivas para 2018: sem grandes ilusões quanto aos resultados
No momento em que escrevo, final de outubro de 2017, estamos a um ano das eleições gerais de 2018, e a poucos meses do início efetiva da campanha presidencial, sendo que os potenciais candidatos já começaram a se movimentar desde vários meses. Estou, como todos os demais cidadãos consciente, ativos e participantes do processo político, atento ao debate que já se desenvolve nos meios de comunicação e nos demais instrumentos sociais de interação, que deverão exercer um papel decisivo nas próximas eleições, como amplamente demonstrado desde o exercício anterior. Inclusive criei, preventivamente, uma nova ferramenta, o blog “Brasil, eleições presidenciais 2018” (https://eleicoespresidenciais2018.blogspot.com.br/), recém inaugurado, mas em relação ao qual não tenho certeza se será intensamente utilizado, ou se acabará, como da vez anterior, submergido pela massa de comunicações através do Facebook e do Twitter.
Este trabalho, que agora concluo, dedicou-se a fazer o levantamento e uma espécie de balanço sobre tudo o que produzi por ocasião de eleições presidenciais anteriores. Da mesma forma que nas ocasiões precedentes, ao lado da imensa massa de informações e materiais conjunturais, continuarei tentando oferecer alguma produção de caráter mais analítico e interpretativo sobre os caminhos e descaminhos de nosso tão deformado sistema político, com sua desigualdade intrínseca entre os chamados “donos do poder” – aquele núcleo promíscuo que agrega “representantes” do povo e seus apoiadores habituais, os “donos do dinheiro” – e aqueles poucos idealistas que tentam corrigir essas deformações com base em valores e princípios democráticos.
Não tenho muitas ilusões de que o Brasil consiga corrigir suas graves distorções econômicas, políticas e sociais através de um debate racional nas próximas eleições, pois a impressão que se tem – em vista das investigações policiais e judiciarias, e das reações nos meios políticos e de negócios – é a de que pouca coisa será corrigido nestas eleições gerais de 2018. A cidadania consciente e ativa ainda é uma parte relativamente pequena, aliás extremamente reduzida, do eleitorado brasileiro, em sua imensa maioria formado por uma massa totalmente deseducada politicamente, quando não ignorante no sentido estrito do termo, ou seja, dotado de uma educação elementar extremamente rudimentar. Essa massa continuará sendo seduzida, portanto, pela publicidade da casta política já inserida no sistema, e que se mantem ferrenhamente apegada aos seus instrumentos de poder. A taxa de renovação do parlamento será, provavelmente, mais elevada do que nas eleições anteriores, mas não ao ponto de alterar radicalmente a relação de forças existente atualmente entre o “bloco do atraso” – os atuais mandatários – e os eventuais representantes dos setores emergentes, que reclamam renovação.
Assim, em 2018, continuaremos a ter, provavelmente, a habitual distribuição de candidatos entre as forças da esquerda anacrônica, os aventureiros nanicos de todos os tipos, e alguns poucos de uma coalizão de centro-esquerda, de tipo socialdemocrata que, salvo surpresa política, sairá vencedora no próximo pleito presidencial. Essa surpresa pode ser representada pela existência de um candidato de “direita” declarado, que já está reunindo as frustrações da massa do eleitorado com as questões de segurança, de corrupção, de insuficiência de serviços públicos e problemas afins. A outra surpresa é que as mensagens tipicamente esquerdistas, baseadas no distributivismo demagógico e no populismo econômico, estão sendo desta vez contrapostas a propostas aparentemente “liberais”, que podem suscitar algum debate sobre o papel do Estado na economia, o que nunca ocorreu em todos os escrutínios anteriores.
Os termos de “direita” e “liberal” estão justificadamente entre aspas uma vez que esses conceitos seguem envoltos numa névoa de indefinições conceituais, o que torna difícil um posicionamento claro sobre o que teremos, efetivamente, como debate público e eleitoral em 2018. Muitos dos candidatos vulgarmente apresentando como pertencendo ao arco da “direita” ou do “liberalismo” constituem uma mescla confusa de autoritarismo, saudosismo, estatismo “corretor” e até fundamentalismo religioso, o que promete uma formidável confusão mental ao longo dos doze meses seguintes. É óbvio que alguns pronunciamentos desses supostos representantes da “direita” revelam uma inequívoca contradição com os princípios do liberalismo, ou até mesmo com a simples definição de uma economia de mercado, tal é o peso do estatismo no Brasil.
De certa forma, essa “direita” que agora se apresenta pode ser tão patética e desprovida de reais soluções aos problemas do país quanto a esquerda que, no comando do país entre 2003 e 2016, nos mergulhou na Grande Destruição econômica, tanto por inépcia quanto pela corrupção desenfreada, com a ativa colaboração de um sistema político totalmente podre. Os comportamentos cleptocráticos em evidência nos últimos anos ainda não foram totalmente controlados no Brasil, assim como o patrimonialismo renitente que está na origem do nefando sistema de colusão entre os “donos do poder” e os “donos do dinheiro”. Muito ainda resta a ser feito de aqui até a data do bicentenário da independência, em 2022, quando esperamos poder contemplar um país um pouco menos corrupto e desestruturado como atualmente. Espero poder contribuir com essa renovação dos meios políticos e em prol de um debate econômico racional, que nos permita criar um país “normal”, digno de comemorar as realizações dos últimos duzentos anos. Esta é a minha mensagem. Seguirei conectado...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 25 de outubro de 2017.

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