Ciro Gomes, o politico visto por Fernando Henrique Cardoso

Apenas uma compilação de opiniões a partir da obra de um observador da política brasileira que já teve algum conhecimento prático, e experiência direta, com o personagem.
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Grato ao amigo Hugo Studart por esta compilação


Ciro Gomes por Fernando Henrique Cardoso: 
Diários da Presidência, 1997-1998
São Paulo: Companhia das Letras, 1. edição em maio de 2016
Extratos do vol. 2:

24 de agosto de 1997 --- “Hoje, também, muita fofoca, porque o Ciro Gomes disse que se interessava em sair candidato à Presidência pelo Partido Socialista (Brasileiro), muitos me telefonaram desde ontem sobre isso. Acho que estamos nos atrasando em puxar o Ciro mais para perto de nós, porque ele pode dar dor de cabeça”.

8 de setembro de 1997 --- “A mais debatida foi a questão do Ciro. Está todo mundo preocupado com a posição dele (*filiado ao PSDB, articulava com o PPS, o PSB e o PV a criação de um novo partido com vistas às eleições de 1998). Eu disse que não tinha falado com ele porque o Tasso me recomendara que não o procurasse. O Tasso conhece bem o Ciro e achou que ele  ia ficar com a bola cheia, difícil de controlar. Certo ou errado, no Ceará eu tenho que seguir o Tasso, e não o Ciro, que pula para cá, pula para lá, dá argumentos ad hoc, nunca rompeu comigo, nunca o maltratei, nunca falei mal dele, está fazendo uma grande onda aí: foi para Harvard, lá escreveu um livro lamentável com o (Roberto) Mangabeira Unger, depois fez reuniões com o Itamar, com a esquerda, imagina, com o Zé Dirceu!, e parece que com alguns latino-americanos para “combater o neoliberalismo”. Naturalmente, o pressuposto é que o neoliberal sou eu”.

14 de setembro de 1997 --- “(...) acabei de ler uma entrevista do Ciro na “Folha”. Cheia de ... não é nem maldade, é leviandade. Esse rapaz é um precipitado, fica respondendo àquilo que ele imagina que sejam as minhas decisões sobre ele, que eu teria manobrado para ele ser governador do Ceará, e eu não manobrei coisíssima nenhuma. Não estou preocupado com ele, acho o Ciro uma pessoa, como é que eu vou dizer...de pouca densidade, um exibicionista, está obviamente aproveitando todas as brechas para fazer o nome dele, mas sem estar apoiado num trabalho consistente.
O Ciro foi ministro porque o Itamar o fez, para botar um nome que naquele momento nos servia (Ciro substituiu Rubens Ricupero no Ministério da Fazenda em setembro de 1994). Como ministro o Ciro foi um desastre, como governador do Ceará, segundo o Tasso, foi péssimo administrador. É um rapaz precipitado, ataca um, ataca outro; não há uma palavra minha sobre o Ciro, e fica aí o Ciro me atacando para aparecer, para conseguir uma projeção maior do que ele deveria ter realmente. É um sub-Lacerda, um sub-Collor, bom mesmo é que fique lá pelo Ceará ou venha para a Câmara, que faça o que quiser, mas me deixe em paz”.

21 de outubro de 1997 --- “O Sarney tem horror ao Ciro, o acha parecido com o Collor. Já registrei aqui minha opinião sobre ele, o rapaz é ambicioso, mas um tanto vazio. O Cesar Maia cunhou uma expressão muito maldosa, disse que ele era “bala perdida”. Recentemente vi no jornal outra expressão sobre o Ciro, na mesma direção, que me pareceu caracterizá-lo bem”.

15 de novembro de 1997 --- “O Ciro é um grande demagogo. O Itamar é uma pessoa de caráter, o Ciro é mais duvidoso, porque é oportunista, não no sentido do Itamar, de aproveitar a oportunidade. O Ciro cria, ele faz declarações que não são verdadeiras, finge que sabe das coisas. Na verdade é mais irrresponsável (do que oportunista). Mas tem uma boa retórica, então neste momento está excitado. Espero que o país não se excite junto com ele”.

16 de novembro de 1997 --- “Ontem, sábado, fui ao Rio assistir ao casamento da filha do Itamar. Tudo transcorreu bem. A festa foi simpática, sem nenhuma pretensão, mas elegante. Alguns políticos e...surpresa para mim, o Ciro Gomes me esperando na porta. Segundo o Sarney, ele fez questão de estar na porta. Isso no mesmo dia em que ele (Ciro) mencionou que eu não teria autoridade moral para falar de pobres. Não dá para aceitar, eu custo a dizer estas coisas, mas, diante do comportamento dele, não posso me limitar a dizer que ele é oportunista. É pior do que oportunista; esses vaivéns não demonstram bom caráter”.

3 de fevereiro de 1998 --- “Eu não sei o que o Itamar vai dizer ou deixar de dizer, a esta altura deve estar todo empavonado para ser candidato a presidente da República. E tem o Ciro, que fez uma declaração lamentável ao “Correio Braziliense”, contando fatos inverídicos --- disse que eu trato o Serra a palavrões, quando todos sabem que não é do meu estilo dizer palavrão ---, enfim um pouco mitômano. Ciro já disse que apóia o Itamar, já desdisse, disse que não vai ser vice de novo, enfim, está caindo no ridículo. Se não fosse o Brasil, não seria perigoso. Sendo o Brasil, esse estilo meio populista, meio Jânio Quadros não sei bem no que vai dar”.

12 de julho de 1998 --- “Um dia perguntei ao Tasso se seria possível o que me disseram, que o Ciro, num programa evangélico de televisão, chorou e disse que foi traído por mim. Não sei traído no quê! (...) O Tasso disse que às vezes ele entra em depressão e que fala assim mesmo e que deve estar sentindo isso agora que está sem pé”.

26 de outubro de 1998 --- “Como o Eduardo Eugênio Gouveia Vieira (Firjan) veio aqui ontem, disse como foi o Ciro como ministro da Fazenda: irresponsável”.

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